Tannat - Originária do País Basco francês, a uva,produtiva e resistente,adaptou-se bem no Uruguai, e agora chega à Campanha Gaúcha
POR EDUARDO VIOTTI
Tannat é a palavra francesa para tanino. Isso diz algo a respeito dessa uva rústica, produtiva e potente originária do Sudoeste francês, bem ao sul de Bordeaux, em pleno País Basco francês, nas franjas dos montes Pirineus. A fronteira nacional ali não é a política, mas a linguística e étnica, e os bascos têm sua língua e cultura próprias na Espanha e na França.
A Tannat ainda é dominante nessa região, e também ali produz seu vinho intenso, rústico e tânico, com aroma que tende a notas vegetais –especialmente se as uvas não atingirem a maturação completa, fenólica. Para amenizar sua potência, seus vinhos são muitas vezes cortados com Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon e Fer e acondi-cionados em barricas de carvalho por longos períodos. Com esse mesmo objetivo, o enólogo francês Patrick DuCour-nau desenvolveu em 1991, para aplicar na vinificação de Tannat, o sistema de micro-oxigenação, em que ínfimas doses de oxigênio são cuidadosamente aplicadas ao vinho durante a fermentação e estágio de maturação. Bem usada, a micro-oxigenação ajuda a polimerizar os taninos, amaciando-os ao paladar e agregando riqueza aromática. É mais ou menos o que o estágio prolongado em barricas pequenas de madeira proporciona, só que em tempo muito reduzido.
Por conta de sua riqueza em polife-nois, os vinhos de Tannat figuram entre os mais benéficos à saúde dentre todos os tintos existentes.
Os vinhos dessa uva são o acompanhamento perfeito para os untuosos pratos típicos do sul francês, como o pato artificalmente engordado e seu confit de canard (geralmente coxas e sobrecoxas desses patos cozidos por longo tempo na própria gordura a baixíssimas temperaturas) e o foie-gras, fígado, consumido fresco e mais frequentemente, cozido e conservado. O cozidão de feijões claros, confit de canard (também pode ser de ganso, oie, ainda mais cobiçado), carnes e embutidos, chamado Cassoulet, é o acorde pefeito para um potente Tannat.
URUGUAIA
A uva foi introduzida pelos imigrantes bascos no Uruguai em meados do século 19 e, através de reprodução por seleção massal, em que cada videira é uma planta diferente (e não clonal, em que uma mesma planta é reproduzida por todo um vinhedo), adquiriu ali características próprias. Sua resistência à doenças fúngicas e geadas contribuiu para a aclimatação, pois o clima no país é também subtropical úmido, embora mais temperado que no sul do Brasil.
O basco francês Pascual Harriague é celebrizado como o introdutor da variedade no Uruguai e é considerado o pai da vinicultura local. Até pouco tempo a uva era chamada de Harriague por lá.
O fato é que a Tannat produz seus melhores tintos no Uruguai, onde é cultivadas e vinificada artesanalmente com cuidado familiar, e começa a ser adotada também pelos viticultores brasileiros.
Nesta degustação, reunimos 15 exemplares de uruguaios e brasileiros de diferentes regiões, com climas muito diversos. Veja que algumas das amostras, apesar de portarem marcas brasileiras, são vinificadas no país vizinho, caso de produtos da Aurora, que mantém uma vinícola por lá há anos.
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