O vinho e a próstata

A avaliação médica anual é imprescindível e salva vidas, mas tomar vinho com moderação também pode ajudar

POR: DR. JAIRO MONSON DE SOUZA FILHO

O câncer é a doença que mais mata, depois das moléstias cardiovasculares. E o câncer de próstata é o tumor que mais mata os homens, desconsiderando as neoplasias de pele. Ele é uma doença de prevalência alta: foram 61,2 mil novos casos no Brasil em 2016, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). A incidência aumenta com o tempo de vida. Sessenta por cento dos casos são em senhores com mais de 65 anos de idade. Aproximadamente um a cada 36 homens morrerá de câncer de próstata. Números inaceitáveis se considerarmos que é uma doença que tem cura, quando diagnosticada e tratada adequada e precocemente. Esta enfermidade, mesmo quando não mata, causa transtornos emocionais e sociais de grande impacto na vida dessas pessoas.

A principal arma para combater esta moléstia é a visita anual ao urologista. Nada é mais eficiente que isso! As sociedades científicas não chegaram a um consenso sobre a idade para fazer o primeiro exame, mas todo homem maduro deve fazê-lo, principalmente aqueles que têm ou tiveram algum familiar com esse problema. O câncer de próstata, quando detectado precocemente, é curável. Ele responde bem a diversas formas de tratamento.

Com uma avaliação médica anual é possível eliminar uma das principais causas de morte dos homens! Uma medida simples que salva muitas vidas! Mas há uma boa notícia para os amantes do vinho. O fermentado de uvas, em diversos estudos, mostrou ser efetivo na prevenção e progressão desta mazela.

Há 3 décadas a relação do consumo de bebidas alcoólicas e, em particular, do vinho com o câncer de próstata tem instigado os cientistas. O álcool é conhecido como um agente carcinogênico, o que quer dizer que ele aumenta a incidência de alguns tipos de câncer. No entanto, alguns estudos epidemiológicos mostram incidênciasignificativamente menor de câncer de próstata entre os bebedores de vinho. Eis aqui mais um dos tantos paradoxos dessa fascinante bebida: uma bebida alcoólica que diminui a incidência de um tipo de câncer. Uma vez mais o ‘néctar dos deuses’ se mostra diferente de todas as outras bebidas! O pesquisadores até já elucidaram os mecanismos biológicos com os quais o vinho confere esta proteção. Porém existem algumas poucas pesquisas que não encontraram estes mesmos resultados. Isso é o suficiente para que os cientistas busquem evidências mai sólidas para essa questão. Em medicina só se forma convicção com evidências muito fortes, inquestionáveis.

Um artigo publicado no dia 18 de abril deste ano na revista Prostate Cancer and Prostatic Diseases traz uma notável contribuição para o entendimento deste assunto. Esse estudo é particularmente relevante. Ele foi metodologicamente bem conduzido e é atual. Os estudos recentes com metodologia adequada são sempre importantes porque englobam todo o conhecimento adquirido até aquele momento e buscam responder dúvidas que ainda existam.

Esse artigo é um estudo caso-controle. Esse tipo de pesquisa tem grande valor científico, porque compara sempre dois grupos muito semelhantes em tudo (idade, índice de massa corpórea, percentual de tabagistas, sedentários etc.), porém um com a doença e outro sem. Foram estudados 1.282 homens com câncer de próstata agressivo e outros 951 homens sem a moléstia, que formavam o grupo controle. Vejamos algumas das conclusões deste estudo:

“O consumidor pesado de cerveja e, possivelmente, de destilados teve risco aumentado para câncer de próstata agressivo”.

“Não foi encontrada relação dose- -resposta do consumo de vinho tinto ou branco com a incidência aumentada de câncer agressivo de próstata”.

“Os bebedores de qualquer quantidade de vinho tiveram risco diminuído para desenvolver câncer de próstata agressivo, quando comparados a não-bebedores de vinho”.

A notícia é boa para os amantes do vinho. Há mais evidências de que ele é um aliado dos médicos na prevenção e na progressão do câncer de próstata. Baco, com sua generosidade, reservou essa benesse para os homens.