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  • Vinho Magazine

Coiós & Esnobes

O divertido é saber escolher um vinho de bom preço que ofereça o mesmo prazer que um produto muito mais caro!


Por: Irineu Guarnier Filho


Faz algum tempo, ajudei duas velhinhas em um supermercado a escolher dois vinhos com os quais elas pretendiam presentear “um médico”. Elas pareciam perdidas diante de tantos rótulos. A mais idosa me confidenciou que não entedia nada de vinhos, mas que não queria oferecer ”qualquer coisa ao doutor”. Como ela me chamou de “moço”, fui ainda mais solícito.

Perguntei-lhes se os vinhos teriam de ser nacionais ou importados. Nacionais, foi a resposta. Até quanto estariam dispostas a pagar por uma garrafa? R$ 40, me disse a mais nova, depois de fazer um rápido cálculo mental. Tintos ou brancos? Tintos, foi a resposta categórica. Analisamos diversos rótulos e rapidamente encontramos duas garrafas decentes na faixa de preço. Um Tannat, elaborado na Campanha Gaúcha, e um Cabernet Sauvignon, da Serra. Total: R$ 80, em números redondos.


Conto essa história para dizer que não é preciso gastar uma fortuna para impressionar alguém que presenteamos com vinhos. Se o “doutor” não era um enochato, deve ter

apreciado o presente –ao menos pela boa intenção das humildes senhoras.

O vinho é –ou deveria ser– uma bebida democrática. É uma besteira associá-lo ao consumo de luxo, como se apenas ricaços de filmes hollywoodianos, que degustam um Romanné-Conti ou um Petrus antigos, de milhares de euros, pudessem fruir o verdadeiro prazer que a bebida proporciona. Isso só estimula o esnobismo novo-rico e afasta da enofilia muitos consumidores que gostariam de beber um ou dois cálices por dia de um vinho honesto, com preço civilizado.

A verdade é que há vinhos para todos os bolsos. Nos finos, os preços começam em R$ 20 e sobem ao infinito. Entre um extremo e outro, há ótimas garrafas por R$ 40, R$ 60 ou R$ 90. Certa vez, vi numa lista de “pechinchas” de um crítico de vinhos um rótulo por US$ 100. Ora, uma garrafa por mais de R$ 300 não é nenhuma barbada –em qualquer lugar do mundo. Por esse preço, qualquer vinho tem a obrigação de ser muito bom.

Em matéria de preço, continua valendo a máxima de Saul Galvão, um dos maiores críticos de vinhos que o Brasil já teve. Para ele, qualquer “coió” pode comprar um vinho de US$ 300, desde que tenha dinheiro para isso. A verdadeira sabedoria, ensinava o mestre Galvão, consiste em adquirir um excelente vinho por US$ 30.

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