Afinal, os sulfitos prejudicam a saúde?
- Vinho Magazine
- 27 de mar.
- 2 min de leitura
O conservante universal do vinho é realmente uma ameaça ao organismo?
POR: DR. JAIRO MONSON DE SOUZA FILHO

Os sulfitos são usados na elaboração de vinhos desde o final do século 18. Só isso já responde a questão acima. Se o seu uso causasse dano orgânico relevante, isso seria amplamente conhecido e eles seriam banidos das práticas enológicas.
O destino intrínseco do suco de uva é se tornar vinagre. O vinho –essa maravilha!– é um estágio intermediário entre o suco de uva e o vinagre. Para usufruir as benesses do vinho é necessário interromperesse processo natural e mantê-lo estável enquanto vinho, não permitindo que chegue a vinagre. O dióxido de enxofre, anidrido sulfuroso ou SO2 é extremamente competente em realizar essa tarefa. Além de um potente antioxidante, inibe a atividade de bactérias e leveduras e destrói enzimas que degradam o vinho. Reúne, portanto, propriedades ideais para estabilizar o fermentado de uvas na condição de vinho, evitando que siga a sua evolução natural.
O SO2 é formado também durante a fermentação do suco de uva. Cada litro de mosto fermentado produz até 30mg de anidrido sulfuroso, insuficientes para estabilizar o vinho. Quanto mais doce o vinho, maior a necessidade de dióxido de enxofre para estabilizá-lo.
Várias entidades regulamentam a adição de SO2 no vinho. A mais severa é a União Europeia, que permite até 160mg/l nos vinhos tintos, 260mg/l nos vinhos brancos, 300mg/l nos vinhos licorosos e 400mg/l nos vinhos com Botrytis. No Brasil, são permitidos até 350mg/l, conforme a Portaria 229 de 1988 do Ministério da Agricultura. A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera segura a ingesta de até 0,7 mg de SO2 por quilo de peso corporal, por dia. É preciso considerar que outros alimentos, como queijos e frutas secas, também usam esse conservante.
A segurança desses aditivos nos vinhos e outros alimentos é questionada há muito tempo. Recentemente, a Agence Nationale de Sécurité Sanitaire (Anses) da França publicou documento em que estima que 3% da população adulta daquele país consome doses de sulfitos acima das recomendadas pela OMS. É importante salientar que inexiste uma doença ou manifestações clínicas bem definidas causadas pela overdose de anidrido sulfuroso. As autoridades sanitárias apenas chamam a atenção para o ‘risco de intoxicação’, mas não precisam e nem dimensionam o dano. O consumo dessas substâncias já foi relacionado à urticária, asma e outras manifestações alérgicas, além de irritabilidade na pele, cefaleia, diarreia, coriza e sensação de ressaca. Mas todas essas manifestações dependem mais da sensibilidade individual do que da dose de sulfitos consumidos.
Embora o SO2 não tenha se mostrado um problema de saúde pública, a tendência é de produzir vinhos com menos aditivos sulfurosos. Os enólogos, com conhecimento técnico e sensibilidade apurada, buscam isso. Ótimo!
link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link link