ÁLCOOL E SAÚDE POR DR. JAIRO MONSON DE SOUZA FILHO, MÉDICO
- Vinho Magazine
- 31 de mar.
- 3 min de leitura

Discussão entre os benefícios e malefícios do consumo
leve e moderado de álcool, por quem não tenha contraindicação a isso, nunca acaba. Ela é hoje uma questão muito passional. Envolve, além de vaidades, interesses acadêmicos e econômicos. Isso difi culta uma aná- lise isenta e confunde o entendimento por pessoas leigas. Há mais de 30 anos acompanho essa discussão e tento, de maneira isenta, entender e ajudar a entender essa questão.
Em janeiro de 2024 o Isfar (International Scientifi c Forum on Alcohol Research) emitiu um parecer em defesa dos benefícios para a saúde humana do consumo moderado de álcool.
O Isfar consiste em um grupo internacional de médicos e cientistas independentes, especialistas em suas áreas de atuação e comprometidos com análises equilibradas e bem fundamentadas de estudos sobre álcool e saúde. Eles não recebem qualquer remuneração por suas contribuições.
Alguns dos membros desse fórum declaram já ter recebido verba da indústria de bebidas, de instituições governamentais e outras sem fins lucrativos, mas também de instituições de educação e reabilitação do álcool, para financiamento de seus estudos, ao longo da vida acadêmica. Isso precisa ficar claro, mas não é uma assinatura de comprometimento com o resultado
e análises de estudos. Considere-se que os maiores avanços do tratamento de doenças vieram de estudos patrocinados pela indústria farmacêutica. Essa é uma questão delicada, que precisa ser clara e adequadamente considerada.
Algumas das considerações feitas no parecer do Isfar publicado em janeiro de 2024:
• Estudos longitudinais observacionais desde 2000 reforçam as associações entre estilo de vida e envelhecimento saudável, destacando o consumo moderado de álcool como um hábito saudável que reduz a mortalidade geral e o risco de doenças vasculares, diabetes e demências. Após ajustes para fatores de confusão (como status socioeconômico mais elevado, por exemplo), os consumidores moderados de álcool continuam a apresentar melhores perfis de fatores de risco.
• Estudos sobre envelhecimento saudável analisaram o efeito aditivo do consumo moderado de álcool para aqueles que já vivem de forma saudável. Esses estudos mostram que mesmo aqueles que não fumam, têm uma dieta e um peso saudável, o álcool com moderação reduz ainda mais a mortalidade e o risco de infarto do miocárdio.
• Um estudo conduzido por Li et al. em 2019 observou uma redução de 84% na mortalidade por todas as causas; 65% menos mortes por câncer e 82% menos mortes por doenças cardiovasculares para indivíduos com todos os cinco fatores de estilo de vida saudável. O efeito global foi associado de 12 a 14 anos adicionais de vida após os 50 anos. São dados impressionantes e difíceis de contestar!
• Estudos sugerem que em adultos mais velhos, o consumo moderado de álcool confere menos fragilidade associada ao envelhecimento e prevê menos sintomas depressivos. A interação social resultante, vista como essencial para um envelhecimento saudável, também melhora.
• Existem estudos clínicos que demonstram os mecanismos biológicos pelos quais o consumo moderado de álcool beneficia a saúde. Já foi consistentemente demonstrado como ocorre a redução do risco de doença coronariana, de diabetes, de demências e certos tipos de câncer, além da melhora do perfil lipídico e a redução da inflamação.
• Alguns estudos analisam apenas a quantidade de álcool consumida (por exemplo, semanalmente), sem considerar os hábitos de consumo. Isso é relevante e não pode ser ignorado no momento da análise! Pesquisas que consideram os hábitos de consumo descobriram que a ingestão regular (por exemplo, diária moderada) de álcool estava associado a menores riscos de diabetes, doença coronariana e mortalidade por todas as causas, independentemente da quantidade. Por outro lado, o consumo episódico intenso (por exemplo, nos fins de semana) não confere qualquer proteção.
• Eles concluem o parecer dizendo: “O conjunto esmagador de evidências de todos estes estudos relatados em publicações revisadas por pares é que, embora ninguém deva recomendar o início do consumo de álcool para obter benefícios à saúde, o álcool com moderação confere benefícios à saúde. Não há base científica para considerar o consumo leve a moderado de álcool como prejudicial à saúde ou como um contribuinte significativo para o risco de doenças.”
Apesar das controvérsias, as evidências científicas mais sólidas disponíveis hoje, indicam que o consumo moderado de álcool confere benefícios à saúde, desde que feito com moderação.
A noção de que o álcool é prejudicial à saúde deve ser avaliada com base nas evidências disponíveis, evitando distorções que comprometam a confiança pública na ciência e nas políticas de saúde mais adequadas
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